O porque da alergia às bijuterias
09 de fevereiro de 2021

O porque da alergia às bijuterias

O níquel é o responsável pela reação alérgica que, muitas vezes, se estende por todo o corpo e não somente nas partes em que houve contato com o metal.

Muitas vezes ele nem está exposto, a camada de níquel está embaixo da camada de ouro de uma bijuteria, e mesmo assim ao contato com a pele há o seu desprendimento e consequentemente o desencadeamento do processo alérgico.

Este artigo foi escrito na esdição 116 de Novembro/Dezembro 2002 da Revista Tratamentos de Superfície e também posteriormente parte dele na Revista Brilho em 2005

O tema é muito atual porque a alergia que algumas bijuterias provocam nos seus usuários ainda é desconhecida por muita gente.

Alergia à Bijuterias e Folheados

Muitos generalizam o processo alérgico e se dizem: “alérgicos à “bijuterias”,  mas a causa real é quase sempre o contato com o metal níquel. Seja em revestimentos galvânicos, parte de ligas de metais como o aço ou o próprio ouro  ou simplesmente o contato com sais e soluções contendo níquel é suficiente para desencadear uma reação alérgica que muitas vezes se estende por todo o corpo e não somente nas partes em que houve o contato com o metal.

Ilustramos a seguir alguns casos mais comuns da manifestação deste processo:

Alergia ao uso de "piercing"

O problema deste metal é tão difundido que na Europa, após uma pesquisa constatando que em torno de 11% da população desenvolve esta alergia, foi proibido o uso do níquel em qualquer artigo que tenha contato direto com o corpo, mesmo que este metal esteja nas camadas intermediárias (como é o caso do banho de níquel utilizado em bijuterias douradas, botões, zippers, armações de óculos, pulseiras de relógio e artigos decorativos em geral).

De acordo com o Dr. David Cohen da  Universidade New York de Medicina; a incidência desta alergia aumentou da década de 80 para finais de 90 nos Estados Unidos; de 10% para 14,3%.  Segundo  a Academia Americana de Dermatologia, este aumento de 43% é preocupante e tem a sua causa no aumento da popularidade no uso do “piercing”.


Com o aumento da popularidade do uso do “piercing” 
A incidência de alergia aumentou 43% nos EUA

Uma forma simples de testar a presença de níquel nos artigos metálicos é a partir de um “Kit” de teste que consiste de dois componentes, o dimetilglioxima e  o hidróxido de amônia, uma gota  destes dois componentes são colocados  na superfície do objeto, com um cotonete é friccionado suavemente. Se o algodão branco do cotonete adquirir uma coloração rósea é constatado a presença de níquel, se permanecer branco então não há níquel.

Mesmo a jóia de ouro cuja pureza esteja abaixo de 12 K, pode conter níquel na sua liga e desencadear o processo alérgico. Também a liga de ouro branco pode conter este metal.  Muitas indústrias de jóias já vem desenvolvendo ligas de ouro para substituir este metal. Não há, porém, uma lei brasileira restringindo o seu uso.

Artigos com revestimentos de ouro, prata, ródio

Os produtos mais populares que levam acabamento com metais preciosos são as bijuterias e os chamados “folheados” ou “chapeados”. Geralmente, quanto mais barato é o produto maior a necessidade do banho de níquel, devido à espessura de ouro muito baixa empregada no topo do revestimento. Neste segmento, a aplicação do banho de níquel é muito importante pelas suas características de proteção, nivelamento e brilho.

Apesar de não haver uma lei brasileira regulamentando o uso do níquel, muitas empresas no Brasil já vem substituindo ou eliminando esta camada. As opções de substituição são muitas, porém com algumas dificuldades porque a vantagem da  aplicação da camada  de níquel é muito grande, se considerar a dureza do depósito, o grau de brilho  e nivelamento que se atinge e o baixíssimo custo deste banho.

Muitas empresas de bijuterias “folheadas” têm simplesmente abolido o banho de níquel e aplicam o banho de ouro diretamente  sobre a camada de cobre, porém há um risco muito grande se considerar a migração do cobre na superfície dourada. Esta prática só é indicada se a espessura da camada de ouro for grande (acima de 2 microns – unidade métrica),  suficiente  para evitar a migração.

O fluxograma operacional geralmente empregado  para a produção de bijuterias com base de latão é a seguinte:

Substituto para níquel

Paládio – Aplicar uma camada de paládio antes da camada de ouro foi uma prática muito comum anos atrás quando o metal tinha um custo significativamente mais barato, e apesar da camada de paládio não apresentar aumento de brilho nem nivelamento, características fortes do níquel; o paládio é um metal que auxilia muito quanto à resistência à corrosão, e a função de brilho e nivelamento poderia ser obtido no banho de cobre ácido. Hoje, este banho está praticamente descartado no mercado pelo valor do metal na cotação de metais preciosos, o paládio é hoje mais caro que o ouro inviabilizando o seu uso.

Prata –  A camada de prata aplicada como camada intermediária têm algumas vantagens como o fácil controle do banho de prata (só um metal), a camada obtida pode ser muito brilhante, e a dureza pode ser incrementada com adição de  endurecedores organo-metálicos. Também o custo da prata em relação ao paládio é infinitamente menor que o paládio, porém muito mais caro se for comparado com o níquel.

O emprego deste banho atualmente é indicado quando se aplica espessuras de camadas  maiores de ouro ou ródio, porque a prata, além de ter um custo maior, é um metal que tem afinidade com enxofre e suas combinações, uma camada de ouro muito fina como as empregadas em bijuterias, fivelas ou botões não dariam cobertura de ouro suficiente para proteger a prata destas reações.

Bronze – Este depósito  é hoje o mais empregado para a substituição do níquel, sendo uma liga de estanho, cobre e em alguns casos zinco; obtém-se camada branca ou amarela muito brilhante, dura e com certa resistência a corrosão.

A tarefa maior é no controle do processo, uma vez que se faz necessário  controlar a co-deposição de  três metais e mais os seus abrilhantadores, tarefa muito fácil no banho de níquel, que controla só um metal – o níquel.

É necessário uma estrutura de laboratório e testes em  células para  controlar o bom  desempenho deste banho. Com estes cuidados, a liga de bronze é a mais compatível para substituição do níquel, tanto no fator custo como dureza, brilho e nivelamento. 

Outros Acabamentos

Verniz Eletroforético – O verniz é uma proteção muito grande, bastante popular para o acabamento de ouro em bijuterias, armações de óculos e outros artigos. Sua proteção assegura uma maior durabilidade ao uso, como também  evita o contato direto do metal com a pele, servindo assim como uma barreira de proteção; diminuindo assim o risco de desencadear o processo alérgico enquanto  a proteção permanecer na superfície do objeto.

Outros Metais

Cobalto - Recentemente têm surgido opções de banhos com este metal, porém se o objetivo da substituição do níquel é somente devido ao desenvolvimento de reações alergicas, não faz sentido usar um banho com um metal que também pode desenvolver alergia. Não significa que o banho não possa ser utilizado com muitas vantagens em outras aplicações para finalidades diferentes ao tema aqui proposto.

WILMA AYAKO TAIRA DOS SANTOS

WILMA AYAKO TAIRA DOS SANTOS

Possui graduação de Bacharel em Ciências com Habilitação em Química e Atribuições Tecnológicas pela Faculdade de São Bernardo do Campo (FASB), 1980. É Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), 2011. Atua na ABTS - Associação Brasileira de Tratamentos de Superfície desde 1994, foi presidente na gestão 2010-2012, foi coordenadora do EBRATS 2015 - 15º Encontro Brasileiro de Tratamentos de Superfície e IV INTERFINISH Latino Americano, foi Diretora Cultural nas gestões 2004-2006 e 2007-2009, atualmente é vice Diretora Cultural. É consultora técnica e representante comercial.

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